19
Nov 04

CONSOLO NA PRAIA


 


Vamos, não chores...


A infância está perdida.


A mocidade está perdida.


Mas a vida não se perdeu.


O primeiro amor passou.


O segundo amor passou.


O terceiro amor passou.


Mas o coração continua.


Perdeste o melhor amigo.


Não tentaste qualquer viagem.


Não possuis casa, navio, terra.


Mas tens um cão.


Algumas palavras duras,


em voz mansa, te golpearam.


Nunca, nunca cicatrizam.


Mas, e o humour?


A injustiça não se resolve.


À sombra do mundo errado


murmuraste um protesto tímido.


Mas virão outros.


 


Tudo somado, devias


precipitar-te, de vez, nas águas.


Estás nu na areia, no vento...


Dorme, meu filho.


 


Poema de Carlos Drummond de Andrade


 


 

publicado por sorraia.blog às 12:08

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