Mas afinal o que são os Cebola Mol? Um fenómeno de popularidade surgido quase a par com o aparecimento na Internet do mistério Zé Cabra, um tipo que canta mal e quis gravar um disco. Muitos confundem os dois projectos e comparam-nos como sendo a mesma coisa. Não são.
Muitos dos actuais admiradores que conheço do Zé Cabra são estudantes universitários, que em tempos elevaram a ícone o Quim Barreiros, que utilizava um humor doutros tempos, baseado nos segundos sentidos das palavras. Nesse tempo fazia também fama no Bairro Alto o "Quinzinho Portugal", que antes dos discos, já contava e cantava anedotas.
Os Irmãos Catita e os Ena Pá 2000 (em que os primeiros eram, talvez, a versão não censurada dos segundos) tomaram o lugar do Quim Barreiros nas muitas festas da diversão disparatada. Por uns amada, por outros odiada.
Recordo-me de uma festa organizada pela Junta de Freguesia da Ajuda, há uns anos, em que os Ena Pá - então relativamente pouco conhecidos - foram os convidados de honra e não tardaram a chocar a população envelhecida daquela freguesia de Lisboa.
Também, há uns anos, o Marco Paulo saíu a chorar do palco das Queimas das Fitas de Coimbra, corrido e apupado a garrafas e latas. Prometeu nunca mais voltar. Neste caso os estudantes queriam divertir-se à custa dele, mesmo que o músico não estivesse para aí virado. Mal sabia ele quanto era amado.
A questão é que os tempos mudaram e as formas de rir e de fazer rir também. É aqui que surgem os Cebola Mol, que se apresentam como um duo de grandes artistas, conscientes de que são tão maus, tão maus, que acabam por ser bons nisso.
Estes Cebola Mol (Si Bemol?) debulham à volta de vários esteriotipos musicais, que vão desde a música cigana (o seu tema mais famoso), a africana, brasileira, a pop anglo-saxónica, a música oriental e até mesmo o fado português. Não se tornaram, por causa disso, num projecto musical - tal como aconteceu com os Ena Pá, o Quim Barreiros e pelo próprio Zé Cabra. São, em vez disso, uma rábula "musical", conscientemente desalinhada com a qualidade musical.
Este fenómeno, associado ao mesmo disparate matinal que todos os dias invade a antena da Comercial - e que revolucionou por completo a forma de fazer rádio em Portugal - ganhou um protagonismo que ao mesmo tempo é difícil de explicar e que... faz rir.
Este acaba por ser o próprio mérito das rubricas da Comercial "O Homem que Mordeu o Cão", cujas histórias são inacreditavelmente idiotas, e por isso divertidas. Os Cebola Mol funcionam como se tivessem sido retirados de uma colagem dessas histórias, como se tivessem estado expostos ao programa radioactivo (segundo a rábula, foram descobertos à porta da comercial).
Eu inicialmente tive uma reacção estranha a estes Cebola Mol, e só depois - um pouco como aconteceu com estes novos fenómenos da comunicação radiofónica - acabei por entende-los. É como uma relação de Amor-ódio. Gosto muito porque detesto tanto. Isto acaba por ser divertido, não fosse o humor algo que só funciona, quando faz rir.
Biscainhos, consultem o site deste famoso grupo e ouçam umas musiquitas em cebolamol.clix.pt