Sexta-feira, 19h30, estrada de acesso ao parque de estacionamento junto ao Jardim Municipal de Vila Franca de Xira. Um homem de meia idade e engravatado chega num carro de gama alta e começa a fazer sinais de luzes. Duma estrada de areia que liga a um estaleiro junto da Ponte Marechal Carmona aparece um rapaz que não aparenta mais de 20 anos. Depois de uma festa na cabeça, o rapaz entra no carro, mas a viagem é curta. Uns metros mais à frente do ponto de encontro, o carro pára e as luzes apagam-se. É o início de mais um encontro homossexual.
Fábio, 23 anos, estudante do ensino superior residente na Póvoa de Santa Iria, aceita partilhar um pouco da história da sua vida com a reportagem de O MIRANTE. Com muito receio confessa que conheceu João, um empresário da região, através de um canal de conversação na Internet. Ele estava a passar mal e pediu a minha ajuda. Começamos a encontrar-nos e somos bons amigos, explica
O jovem recusa assumir-se como um prostituto, mas confessa que o amante ajuda financeiramente e dá-lhe bons presentes. No Natal deu-me um telemóvel e comprou-me um blusão de 150 euros, acrescenta. O amante de Fábio é casado, tem dois filhos e recusa assumir que é bissexual. Eu sei que ele já andou com mulheres muita boas, refere.
O jovem explica que é o facto de João não querer assumir as suas opções que força os encontros neste local clandestino. Se fosse com uma rapariga, ele iria para um hotel, explica o jovem amante. A zona da Lezíria das Cortes, onde está prevista a construção da Nova Vila Franca com quase dois mil fogos, um parque urbano e vários equipamentos públicos está referenciada como local de engate para homossexuais em vários sítios e publicações dirigidas à comunidade Gay.
Alguns sítios vão ao pormenor de localizar a zona de engate em mapas e mostrar a melhor forma de lá chegar. Quase todos referem que é engate não comercial e alguns até apelam aos visitantes para deixar sugestões para novos locais. Há descrições e dicas para que o engate tenha mais sucesso.
Quem passa diariamente na estrada de acesso ao Jardim Municipal de Vila Franca já se apercebeu da zona de engate. Um grupo de pessoas que costuma fazer caminhadas durante a noite descreve várias situações, algumas mais estranhas. Uma vez íamos a andar e vimos um homem todo nu, estranhámos e como íamos quatro pessoas, o meu marido perguntou-lhe se precisava de ajuda. O homem contou que o tinham roubado e deixado naquele estado, mas quando dissemos que íamos chamar a polícia, disse que não era preciso, conta. Era Verão, e o homem acabou por regressar a casa com calções, t-shirt e chinelos.
A PSP não tem registo de ocorrências no local, mas já recebeu várias referências de que local é procurado por homossexuais. As autoridades reforçaram o policiamento, mas referem que não podem ter uma patrulha permanentemente no local. A prática de actos sexuais em lugares públicos é proibida por lei e constitui o crime de atentado ao pudor. Porque se trata de um crime semi-público, é necessário que alguém faça queixa para as autoridades actuarem.
João Ferreira, 59 anos, costuma caminhar no local e já se apercebeu de várias situações. Contudo, diz que não se sente incomodado. Eles estão entretidos e eu passo ao largo. Não tenho nada a ver com isso, refere. O caminhante frisa que também é frequente ver engates de casais heterossexuais e aponta para papéis, embalagens de preservativos e outros sinais que apenas provam a existência de actos sexuais na Lezíria das Cortes.
( por Nelson Silva Lopes in
O Mirante On-line )