
É numa pequena loja, dissimulada, junto à estrada municipal 515, no Biscainho, que alguns cavaleiros tauromáquicos do país mandam fazer as suas casacas, coletes e tricórnios. A alfaiataria de Manuel Fernandes Marques já tem meio século de existência.
A alfaiataria de Manuel Fernandes Marques é uma das casas de referência no país para a confecção das vestimentas dos cavaleiros tauromáquicos. Pela loja do Biscainho, concelho de Coruche, já passaram e continuam a passar os grandes da festa taurina. João Moura, Paulo Caetano, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol e as senhoras Sónia Matias e Ana Batista, são alguns dos muitos exemplos.
A culpa é de Manuel Fernandes Marques que, aos 71 anos, continua a todo o vapor na confecção dos trajes para os cavaleiros, com a ajuda da esposa, Maria Margarida. Com 18 anos prometeu à Senhora do Castelo (padroeira de Coruche) que se encontrasse alguém que lhe ensinasse a arte tradicional da alfaiataria andava um ano com uma gravata preta. Iniciou-se então nos trabalhos e cumpriu a promessa.
Começou por fazer calças, coletes e afins mas, numa terra de tradição taurina, a transição era inevitável. Foi a Lisboa à academia das artes taurinas ver como se faziam os cortes e bordados, para aprender, e tomou-lhe o gosto.
Actualmente é a referência nacional na arte de bem vestir os cavaleiros tauromáquicos. A fama e o proveito já lhe valeram mais de 15 idas à televisão para falar do que sabe fazer melhor.
A primeira casaca que fez foi para João Telles, já lá vão 30 anos. Também serviu os jovens Paulo Caetano e João Moura, além de referências do passado como João Núncio e António Luís Lopes (Coruche).
Até uma portuguesa que foi eleita miss num concurso na Austrália lhe encomendou uma casaca verde há alguns anos. E que belas pernas ela tinha, diz com ar malandro Manuel Marques apontando para a foto que repousa numa vitrina cheia de recordações.
Os tecidos são importados de França, Inglaterra e Japão. Cetins e sedas especiais a preços proibitivos. Só o cetim para uma casaca pode custar cerca de 300 euros. Casaca, colete, calção e tricórnio são as peças de vestimenta do cavaleiro. Um conjunto pode ficar em 2.500 euros. Os materiais são caros e são dispendidas muitas horas, entre 150 e 200 horas para um conjunto. São duas ou três semanas de trabalho, refere Manuel Marques.
Os desenhos, bordados a ouro, prata, missangas ou lantejoulas são os tradicionais, com motivos florais, mas também surgem novas tendências como os desenhos geométricos mais típicos de Espanha. As cores mais pedidas são o azul, vermelho e verde, mas também fabrica casacas brancas e cremes. Para toureiros não trabalha mas de vez em quando faz roupa para grupos de forcados.
Nunca é demais repetir e divulgar uma figura do Biscainho.
Fonte : Jornal O Mirante
Trabalho preparado para publicação por : Pipoca